Notes

Os quatro degraus do aprendizado

Aprender uma coisa nova — qualquer coisa — é como subir uma escada que tem quatro degraus.

No primeiro degrau, você não sabe o que você não sabe. É no primeiro degrau que você olha aquele seu amigo que toca bateria bem pra caramba e pensa “seria legal se eu tocasse que nem ele”, mas não faz ideia de que por detrás do “tocar bem” estão coisas como colocar o corpo na posição correta, posicionar a baqueta, saber quais são as partes da bateria, como fazer rudimentos, usar técnicas de pedal e fazer viradas... e provavelmente mais um monte de coisa que eu não sei (porque eu não sei tocar bateria).

Meu filho, ao me ver dirigir, costuma dizer que “dirigir é fácil”, que é só ligar o carro, colocar o câmbio em D, acelerar e virar o volante para um lado ou para o outro — mas ele mesmo não tem habilitação. Está no primeiro degrau da arte da direção. Antes de sair por ai pisando no acelerador e virando o volante, tem que saber regras, placas, componentes do carro, limites e responsabilidades. Mas ele não sabe disso.

No segundo degrau, você sabe o que você não sabe. Se você define como objetivo aprender a tocar bateria, ou aprender a dirigir, se torna consciente que não possui as habilidades e conhecimentos necessários para fazer essas coisas. E é justamente a partir dessa “consciência de não saber” que desperta a vontade de aprender e melhorar.

Nessa fase você vai buscar o conhecimento. Uma boa escola de música ou um professor particular que seja paciente podem ser bons pontos de partida pra aprender a tocar bateria. Se matricular na autoescola é o que se espera de alguém que esteja pensando em dirigir um carro sem fazer muita coisa errada no processo. Lembrando que seja na bateria, na direção ou em qualquer outra coisa que for aprender, apenas o conhecimento teórico não basta — afinal, onde já se viu alguém se tornar um chef somente lendo livros de receita, não é mesmo?

Quando chega ao terceiro degrau, você sabe que você sabe. Depois de muita prática com a bateria ou sentado atrás do volante do carro dirigindo por aí, você finalmente desenvolveu a habilidade e o conhecimento necessários para ser, reconhecidamente, um baterista (ou um motorista).

Só que tem uma pequena questão. Neste degrau, apesar de ser um baterista ou motorista plenamente ciente e capaz do que consegue fazer, você ainda precisa se concentrar plena e exclusivamente na tarefa que está executando (e aplicar esforço conscientemente à mesma, para evitar erros).

É como se fosse um baterista que, antes de cada rudimento ou pressão na pedaleira, precisasse revisar mentalmente o movimento, o tom ou a duração do que vem a seguir. Ou como um motorista que fica prestando atenção a cada som do motor antes de trocar a marcha, e enquanto faz isso tem 100% do seu foco direcionado pra isso. É a fase de praticar, praticar e praticar, deliberadamente, buscando a perfeição. Buscando o quarto degrau.

O quarto e último degrau é aquele em que você não sabe que você sabe. Aqui você atinge uma espécie de competência inconsciente, em que toca bateria muito bem, sem nem precisar pensar muito a respeito, ou dirige sem pensar que marcha está usando ou que movimentos de mãos e pés precisa fazer para acelerar, frear ou dar passagem a um pedestre.

Este último degrau é assim porque é nele que você atinge o domínio completo da habilidade, ou internaliza completamente o conhecimento — de tal forma que, aos olhos de um observador externo, tudo parece ser feito natural e automaticamente, e de forma muito espontânea.

#aprendizado